sábado, 3 de abril de 2010

Menos ego e mais amor


"O Eu é o mestre do eu. Que outro mestre poderia existir? Tudo existe, é um dos extremos. Nada existe é o outro extremo. Devemos sempre nos manter afastados desses dois extremos, e seguir o Caminho do Meio" (Siddartha Gautama)  


O ego é a parte mais superficial do indivíduo, a qual, modificada e tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, mediante seleção e controle de parte dos desejos e exigências procedentes dos impulsos que emanam do indivíduo. O ego obedece ao princípio de realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao id sem transgredir as exigências do superego. Quando o ego se submete ao id, torna-se imoral e destrutivo; ao se submeter ao superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter ao mundo será destruído por ele.

É importante registrarmos que a palavra ego, que significa "eu" e origina-se do latim, é encontrada nos dicionários seguida de seus derivados, como o adjetivo egoísta que é o indivíduo que só se preocupa em satisfazer os seus próprios interesses. Ou egocentrismo que é a tendência de tudo referir-se às próprias perspectivas, tomadas como centro de todos os interesses. Ou ainda, egolatria que é a adoração de si próprio.

Osho, em "Além das Fronteiras da Mente", registra que o "ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel e uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá a oportunidade de encontrar o eu". E segue o seu raciocínio: "A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Ela não está interessada no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhe que você torne-se uma peça eficiente no mecanismo da sociedade... ".

O movimento hippie que marcou a década de 60 com a pregação de valores como paz, amor e liberdade, contrário aos valores associados à violência e à competitividade do modelo capitalista, bem que tentou mostrar ao mundo que um outro mundo seria possível, ou seja, um modelo alternativo de sociedade onde a afirmação do ego agressivo e competitivo deixaria de existir...
 
Talvez o ideal hippie tenha fracassado devido ao exagerado consumo de drogas, associado à concepção de amor livre sem medir as consequências do ato sexual como gerador de responsabilidades nos casos de gravidez. Talvez...
 
Contudo, o grande mérito do movimento hippie foi ter tentado a realização do sonho de uma sociedade justa, igualitária, livre, onde as relações de amor predominariam acima dos egos, egoísmos, egocentrismos e egolatrias.

E a meta buscada pelos hippies dos anos 60, a verdadeira humildade, permanece a desafiar-nos em pleno século XXI. Nesse sentido... nessa linha de raciocínio, Osho informa-nos "que existe dentro de nós um centro oculto, um centro que carregamos por muitas vidas. Esse centro é o nosso verdadeiro eu". E aquilo que buscamos na filosofia ou na religião, Osho alerta-nos que "ninguém pode tentar ser humilde e ninguém pode criar a humildade através do próprio esforço. Quando o ego já não existe, uma humildade vem até você. Ela não é uma criação, ela é uma sombra de seu verdadeiro centro: a alma"
 
Um fato associado à humildade, traduz perfeitamente o que precisamos aprender em relação às influências do ego em nossas vidas... é o que nos conta o autor: "Um faquir - um mendigo - estava orando em uma mesquita de madrugada, enquanto ainda estava escuro. Era um religioso qualquer para os muçulmanos, e ele estava orando e dizendo: "Eu não sou ninguém, eu sou o mais pobre dos pobres, o maior pecador entre os pecadores". De repente havia mais de uma pessoa orando. Era o imperador daquele país, e ele não havia percebido que havia mais alguém ali orando - estava escuro e o imperador também estava dizendo: "Eu sou apenas um vazio, um mendigo à sua porta". Quando ouviu que mais alguém estava dizendo a mesma coisa, o imperador disse: "Pare! Quem está tentando me superar? Quem é você? Como ousa dizer diante do imperador, que você não é ninguém, quando ele está dizendo que não é ninguém?"

O terceiro milênio está aí, a anunciar a Era da Sensibilidade, que resgataria de uma forma aprimorada os valores pregados pelos hippies. Época em que a paz e o amor solidário e abrangente, seriam os alicerces de uma sociedade que visaria, acima dos egos, o bem comum e a verdadeira humildade. Portanto, a anunciada Era da Sensibilidade iniciaria com menos ego e mais amor nas relações interpessoais. .. até o momento em que o ego seria, definitivamente, substituído pelo eu verdadeiro que identificaria e integraria o indivíduo ao universo através da expansão de sua consciência.

A metáfora da árvore, registrada por Osho, retrata o que deverá ocorrer nos próximos séculos em relação ao processo de substituição do ego como centro orientador do "princípio de realidade".
 
"A árvore não está fazendo nada - apenas uma brisa, uma situação, e a folha seca simplesmente cai. A árvore nem mesmo percebe que a folha seca caiu. Ela não faz qualquer barulho, ela não faz qualquer anúncio - nada. A folha seca simplesmente cai e se despedaça no chão, apenas isso. Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo. Ela posa no chão e morre por si mesma. Você não fez nada, portanto você não pode afirmar que a deixou cair. Você vê que simplesmente ela desapareceu, e então o verdadeiro centro surge. E este centro verdadeiro é a alma, o eu, o Deus, a verdade, ou como o quiser chamar".

 Por Flavio Bastos

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