segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Amor Epidêmico



Seus pais foram jantar fora e deixaram o apartamento só para você, seu namorado e a tevê a cabo. Que inconseqüentes! Em menos de um minuto vocês deixam a televisão falando sozinha e vão ensaiar umas cenas de amor no quartinho dos fundos. De repente, escutam o barulho da fechadura. Seu pai esqueceu o talão de cheques. Passos no corredor. Antes que você localize sua camiseta, sua mãe se materializa na porta. Parece que ela está brincando de estátua, mas não resta dúvida que entrou em estado de choque. Você diz o quê? Mãe, a carne é fraca.

A desculpa é esfarrapada mas é legítima. Nada é mais vulnerável que nosso desejo. Na luta entre o cérebro e a pele, nunca dá empate. A pele sempre ganha de W.O.



Você planeja terminar um relacionamento. Chegou à conclusão que não quer mais ter a seu lado uma pessoa distante, que não leva nada à sério, que vive contando piadinhas preconceituosas e que não parece estar muito apaixonado. Por que levar a história adiante? Melhor terminar tudo hoje mesmo. Marca um encontro. Ele chega no horário, você também. Começam a conversar. Você engata o assunto. Para sua surpresa, ele ficou triste. Não quer se separar de você. E para provar, segura seu rosto com as duas mãos e tasca-lhe um beijo. Danou-se.



Onde foram parar as teorias, os diálogos que você planejou, a decisão que parecia irrevogável? Tomaram Doril. Você agora está sob os efeitos do cheiro dele, está rendida ao gosto dele, está ligada a ele pela derme e epiderme. A gravação do seu celular informa: seus neurônios estão fora da área de cobertura ou desligados.

Isso nunca aconteceu com você? Reluto entre dar-lhe os parabéns ou os pêsames. Por um lado, é ótimo ter controle absoluto de todas as suas ações e reações, ter força suficiente para resistir ao próprio desejo. Por outro lado, como é bom dar folga ao nosso raciocínio e deixar-se seduzir, sem ficar calculando perdas e danos, apenas dando-se ao luxo de viver o seu dia de Pigmaleão.



A carne é fraca, mas você tem que ser forte, é o que recomendam todos. Tente, ao menos de vez em quando, ser sexualmente vegetariano e não ceder às tentações. Se conseguir, bravo: terá as rédeas de seu destino na mão. Mas se não der certo, console-se. Criaturas que derretem-se, entregam-se, consomem-se e não sabem negar-se costumam trazer um sorriso enigmático nos lábios. Alguma recompensa há de ter.

Martha Medeiros


P.S.: Gustav Klimt - Love

domingo, 6 de setembro de 2009

Ananga-Ranga: manual indiano sobre sexo















A arte erótica indiana deve ser vista à luz do Hinduísmo.

Na mitologia indiana Kama designa o Deus do Amor.
A mesma palavra refere-se também à busca do prazer, um dos aspectos fundamentais conducentes à salvação da alma.

Não admira, por isso, que o sexo desde longa data se tenha revestido de tanta importância para os indianos.

Disso nos dá conta o Kama-Sutra, um livro clássico sobre erotismo e outras formas do prazer humano.
Amei a ilustração! Belíssima.

Sempre ela!

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
Clarice Lispector
Rendemo-nos ao inevitável!
É preciso exercitar a sabedoria até quando abrimos a guarda e admitimos que somos o que somos: simplesmente imperfeitos.

A chatice inserida nas obrigações



A pior coisa do mundo é você ter que dividir seu espaço com alguém que não te diz a que veio.
Tenho horror de gente que sempre responde: "não sei ...".
E descobri isso, depois de muitos anos.
E dizem que os librianos é que são indecisos....
Não sei qual foi o astrologo babaca que inventou isso!
Sempre me pergunto porque as pessoas pensam que são obrigadas a fazerem algo que não lhes convem.
Apenas para satisfazer a vontade alheia?
Alguém se preocupa em satisfazer as suas vontades, ainda que você se preocupe em fazer o que é politicamente correto?
Te digo que não.
No final das contas, nós sempre acabamos por nos submeter de alguma forma, e quanto mais nos submetemos, menor é o nosso valor.
Eu sempre disse isso à todos, e vejo que não segui meus próprios conselhos.
Quem diria, euzinha, satisfazendo a vontade alheia.
Bom, dizem que há sempre uma primeira vez.
Que esta seja a minha, e que seja a última.
O que me exaure, realmente, é essa mania que as pessoas tem de achar que temos que adivinhar o que elas querem.
Não seria mais fácil que elas falassem claramente?
Vivemos em uma época em que as pessoas se acostumaram a viver mascaradas, e vivem como um camaleão: se adaptando a cada situação, do jeito que elas se apresentam.
Os homens reclamam que tem que adivinhar o pensamentos das mulheres: bom, eu digo o que quero, e parece que ainda assim os que estão a minha volta devem padecer de algum problema de surdez abrupta!
A honestidade dói! Mas é muito melhor do viver fingindo que está tudo bem.
Só não entendo porque as pessas insistem em viver assim.
Deve ser um daqueles mistérios insondaveis que a levamos uma vida inteira para descobrir.
Que seja: decifra-me ou devoro-te!